quarta-feira, 16 de outubro de 2024

Um som de trovão - Ray Bradbury (EM QUADRINHOS)

 Um som de trovão - Ray Bradbury








***


UM SOM DE TROVÃO

O anúncio na parede parecia tremular sob uma película de água quente. Eckels sentiu suas pálpebras estremecerem sobre seu olhar, e o anúncio queimava, na momentânea escuridão:


SAFARIS NO TEMPO, INC.

SAFARIS PARA QUALQUER ANO DO PASSADO

VOCÊ DIZ QUE ANIMAL.

NÓS O LEVAMOS LÁ.

VOCÊ O ABATE.


Uma flegma quente acumulou-se na garganta de Eckels; engoliu e empurrou-a para baixo. Os músculos ao redor de sua boca formaram um sorriso enquanto ele estendeu sua mão lentamente pelo ar, e naquela mão, balançava-se um cheque de dez mil dólares, para o homem atrás da escrivaninha.

— Este safári garante que eu volte vivo?

—  Não garantimos nada — falou o funcionário — exceto os dinossauros. — Voltou-se. — Este é o Sr. Travis, seu Guia, no safári ao passado. Ele vai dizer-lhe o que e aonde atirar. Se ele disser para não atirar, não se atira. Se desobedecer às instruções, há uma pesada multa de mais de dez mil dólares, mais um possível processo do governo, quando voltar.

Eckels olhou, através do amplo escritório, numa completa confusão disforme, de fios entrelaçados e caixas de aço zumbindo, para uma aurora que agora reluzia laranja, então prateada, e então, azul. Havia um som como uma descomunal pira queimando todo o Tempo, todos os anos e todos os calendários, todas as horas empilhadas e incendiadas.

Um toque da mão e esta queima, instantaneamente, se reverteria lindamente. Eckels lembrou-se literalmente das palavras da propaganda. De carvões e cinzas, da poeira e das brasas, como salamandras douradas, os velhos tempos, os anos jovens, podem saltar; rosas suavizando o ar; cabelo branco enegrecendo-se, rugas desaparecendo; tudo ,voltando totalmente à origem, fugir à morte, precipitar-se para o começo de tudo, o sol nascendo nos céus ocidentais, e pondo-se gloriosamente no leste, luas devorando-se a si mesmas no sentido oposto ao costumeiro, e tudo se sobrepondo, como caixas chinesas, coelhos em cartolas, tudo e todos retornando à morte viva, a morte da semente, a morte verde, ao tempo de antes do começo. O toque da mão poderia fazê-lo, o mero toque da mão.

—  Inacreditável. — Eckels respirava, com a luz da Máquina sobre seu rosto fino. — Uma verdadeira Máquina do Tempo. — Abanou a cabeça. — É de fazer pensar. Se a eleição tivesse ido mal ontem, eu poderia estar agora me afastando dos resultados. Felizmente Keith ganhou. Será um bom presidente para os Estados Unidos.

—  Sim — falou o homem por trás da mesa. — Temos sorte. Se Deutscher tivesse ganho, teríamos a pior ditadura. Há sempre um homem anti-tudo, um militarista, um anti-Cristo, anti-humano, anti-intelectual. O povo nos requisitou, sabe, como que brincando, mas a sério. Diziam que se Deutscher se tornasse presidente, queriam viver em 1492. Claro, não é o nosso negócio conduzir Fugas, mas organizar Safáris. De qualquer maneira, Keth é o presidente, agora. Tudo com que precisa preocupar-se agora é…

— Caçar meu dinossauro — Eckels acabou para ele.

— Um Tyranossaurus rex. O Lagarto Tirano, o monstro mais inacreditável de toda a história. Assine este termo. O que quer que aconteça com você, não somos responsáveis. Esses dinossauros são muito vorazes.

Eckels animou-se, nervoso. — Tentando assustar-me!

—  Francamente, sim. Não queremos que vá alguém que entre em pânico ao primeiro tiro. Seis lideres de safári foram mortos no ano passado, e uma dúzia de caçadores. Estamos aqui para dar-lhe a maior emoção que um caçador de verdade jamais almejou. Mandá-lo de volta sessenta milhões de anos, para pegar a maior caça de todos os tempos. Seu cheque ainda está aqui. Pode rasgá-lo.

O Sr. Eckels olhou para o cheque. Seus dedos retorceram-se.

—  Boa-sorte — falou o homem atrás da escrivaninha. — Sr. Travis, ele é todo seu.

Moveram-se silenciosamente, atravessando a sala, levando suas armas com eles, em direção à Máquina, rumo ao metal prateado e às luzes gritantes.

Primeiro, um dia e então uma noite e então um dia e então uma noite, e então era dia-noite-dia-noite-dia. Uma semana, um mês, um ano. uma década! 2 055 a. D., 2 019 a. D., 1 999! 1 957! Partida! A máquina rugia.

Puseram suas máscaras de oxigênio e testaram os intercomunicadores.

Eckels inclinou-se no assento estofado, rosto pálido, maxilar enrijecido. Sentia o tremor em seus braços, olhou para baixo e achou suas mãos firmes no novo rifle. Haviam quatro outros homens na Máquinas. Travis, o líder do Safári, seu assistente, Lesperance, e mais dois outros caçadores, Billings e Kramer. Sentavam-se olhando uns para os outros, e os anos ardiam à volta deles.

—  Estas armas podem dar conta de um dinossauro?   — Eckels sentiu sua boca dizendo.

—  Se os acertar direito — disse Travis pelo rádio do capacete. — Alguns dinossauros têm dois cérebros, um na cabeça e outro no fim da espinha. Ficamos longe destes. É abusar da sorte. Atire as duas primeiras vezes nos olhos, se puder, e cegue-os, e volte a atirar no cérebro.

A Máquina bramia. O Tempo era um filme passado ao contrário. Os sóis voavam e dez milhões de luas, atrás deles. — Pense só — disse Eckels. — Todos os caçadores que jamais viveram nos invejariam hoje. Isto faz a África parecer com o Illinois.

A Máquina desacelerou; seu grito caiu para um sussurro. A Máquina parou.

O sol parou no céu.

A névoa que envolvera a Máquina dissipou-se e estavam num tempo antigo, muito antigo mesmo, três caçadores e dois chefes de safári com suas armas metálicas sobre os joelhos.

—  Cristo ainda não nasceu — disse Travis. — Moisés ainda não foi à montanha, para falar com Deus. As pirâmides ainda estão na terra, esperando para serem recortadas e montadas. Lembrem-se disso. Alexandre; César; Napoleão; Hitler; nenhum deles existe.

O homem fez que sim.

— Aquilo. — Apontou o Sr. Travis — é a selva de sessenta milhões dois mil e cinqüenta e cinco anos antes do presidente Keith.

Mostrou o caminho de metal que cruzava o verde selvagem, sobre um amplo pântano, por entre fetos e palmeiras.

E aquele — disse — é o Caminho, colocado por Safáris no Tempo, para seu uso. Flutua a seis polegadas acima da terra. Não toca senão no máximo uma grama, flor ou árvore. É um metal antigravitacional. Seu propósito é evitar que vocês toquem, de qualquer maneira que seja, este mundo do passado. Fiquem no Caminho. Não saiam dele. Repito. Não saiam. Por qualquer razão que seja! Se caírem, serão multados. E não disparem em nenhum animal que não aprovemos.

— Por quê? — perguntou Eckels.

Sentaram-se, na floresta antiga. Gritos distantes de pássaros vieram com o vento, e o cheiro de alcatrão e de um velho oceano salgado, grama úmida, e flores da cor de sangue.

— Não queremos mudar o Futuro. Não pertencemos ao Passado. O governo não gosta de nós aqui. Temos que pagar muita propina para garantir nossa licença. A Máquina do Tempo é um negócio extremamente delicado. Sem saber, poderíamos matar um animal importante, um pequeno pássaro, uma barata; mesmo uma flor, assim destruindo um elo importante, numa espécie em evolução.

—  Isso não fica muito claro, — falou Eckels.

— Está bem — continuou Travis, — suponhamos que acidentalmente matemos um rato, aqui. Isso quer dizer que todos as futuras famílias deste rato, em particular, serão destruídas, certo?

— Certo.

— E todas as famílias das famílias, daquele rato! Com um pisão de seu pé, você aniquila primeiro um, então uma dúzia, então mil, um milhão, um bilhão de ratos, possivelmente!

— Então estarão mortos; e daí?

— E daí? — Travis torceu o nariz. — Bem, e as raposas que precisariam daqueles ratos para sobreviver? Para cada dez ratos a menos, morre uma raposa. Para cada dez raposas a menos, um leão morre de fome. Para cada leão a menos, insetos, abutres, infinitos bilhões de formas de vida são lançados ao caos e à destruição. Eventualmente, tudo recai no seguinte: cinqüenta e nove milhões de anos depois, um troglodita, um, de uma dúzia no mundo inteiro, vai caçar javalis ou tigres de dentes de sabre para comer. Mas você, amigo, pisou em todos os tigres daquela região. Pisando num só rato. Assim o troglodita morre de fome. E este homem das cavernas, note bem, não é qualquer um dispensável, não senhor! Ele é toda umanação futura. Dele, teriam saído dez filhos. E destes, mais cem, e assim por diante, até a civilização. Destruindo este único homem, destrói-se uma raça, um povo, toda uma história. É comparável a matar um neto de Adão. O pisão de seu pé, num rato, poderia principiar um terremoto, cujos efeitos poderiam abalar nossa terra e destinos pelo Tempo afora, até seus alicerces. Com a morte daquele troglodita, um bilhão de outros ainda não nascidos são mortos no útero. Talvez Roma nunca se erga sobre suas sete colinas. Talvez a Europa fique para sempre uma floresta espessa, e apenas a Ásia cresça, forte e saudável. Pise num rato e esmagará as Pirâmides. Pise num rato e deixará sua marca, como um Grand Canyon, pela Eternidade. A rainha Elizabete poderá nunca nascer. Washington poderá não cruzar o Delaware, poderá nunca haver Estados Unidos. Portanto, seja cuidadoso. Fique no caminho. Nunca pise fora!

—  Percebo — comentou Eckels. — Então não poderíamos nem tocar a grama?

—  Exato. Esmagar certas plantas poderia causar somas infinitesimais. Um erro mínimo seria multiplicado por sessenta milhões de anos, desmesuradamente. Claro, talvez nossa teoria esteja errada. Talvez o Tempo não possa ser alterado por nós. Ou talvez só possa ser alterado de maneiras sutis. Um rato morto aqui causa um desequilíbrio dos insetos ali, uma desproporção populacional mais tarde, uma colheita má mais adiante, uma depressão, fome, e finalmente uma mudança no temperamento social em países remotos. Algo muito mais sutil, como isso. Talvez algo ainda muito mais sutil. Talvez apenas uma respiração, um sussurro, um cabelo, um pólen no ar, uma mudança tão levezinha que se olhasse atentamente, não notaria. Quem sabe? Quem pode dizer que realmente sabe? Não sabemos. Estamos só adivinhando. Mas até que tenhamos certeza, se nossos passeios pelo Tempo podem fazer um barulhão ou um barulhinho na História, seremos cuidadosos.. Esta Máquina, este Caminho, suas roupas e corpo, foram esterilizados, como sabem, antes da viagem. Usamos estes capacetes de oxigênio de modo que não possamos introduzir bactérias nesta atmosfera primitiva.

— Como sabemos que animais abater?

—  Estão marcados com tinta vermelha — explicou Travis. — Hoje, antes da viagem, mandamos Lesperance aqui com a Máquina. Ele veio a esta época em particular e seguiu certos animais.

— Estudando-os?

— Isso — falou Lesperance. — Sigo-os por toda sua vida, observando quais vivem mais. Quantas vezes se acasalam. Poucas vezes. A sua vida é curta. Quando vejo que algum vai morrer com uma árvore caindo em cima dele, ou um que se afoga num poço de alcatrão, anoto a hora, minuto, e segundos exatos. Disparo um revólver de tinta. Deixa uma marca vermelha em seus flancos. Não podemos nos enganar. Então correlaciono com a chegada ao Caminho, de modo que encontremos o monstro a não mais de dois minutos de sua morte, inevitável. Desta forma, matamos apenas animais sem futuro, que nunca vão se acasalar de novo. Vê como somos cuidadosos?

—  Mas se esta manhã você voltou no tempo, deve ter cruzado conosco mesmos, nosso safári! Como nos saímos? Tivemos sucesso? Conseguimos voltar todos… vivos?

Travis e Lesperance entreolharam-se.

— Isso seria um paradoxo, — falou este último. — O tempo não permite esse tipo de confusão; um homem encontrando a si mesmo. Quando há o risco de tais situações, o tempo desvia-se. Como um avião passando por um vácuo. Sentiu a Máquina pular antes de pararmos? Éramos nós passando por nós mesmos, a caminho do Futuro. Não vimos nada. Não há meio de dizer se esta expedição teve sucesso; se pegamos nosso monstro, ou se todos nós, isto é, o senhor,Sr. Eckels, saiu vivo.

Eckels sorriu, palidamente.

— Parem com essa conversa — interrompeu Travis. — Todos de pé!

Estavam prontos para deixar a Máquina.

A selva era alta, a selva era larga, e a selva era todo o mundo, para sempre. Sons como música, e sons como tendas voando, encheram o ar, e eram pterodátilos planando com cavernosas asas cinzentas, morcegos gigantescos de delírio e febre noturna. Eckels, equilibrado no estreito Caminho, apontou seu rifle, bem-humorado.

— Pare! — falou Travis. — Não aponte nem mesmo por brincadeira, idiota! Se a arma dispara…

Eckels enrubesceu. — Aonde está nosso Tyranossaurus?

Lesperance checou seu relógio de pulso. — Logo à frente. Vamos estar no caminho dele em sessenta segundos. Atenção para a tinta vermelha! Não atire até que eu mande. Fique no caminho. Fique no Caminho!

Moveram-se adiante, pelo vento da manhã.

Estranho — murmurou Eckels. — Lá adiante, daqui a sessenta milhões de anos, fim das eleições. Keith presidente. Todos celebrando. E aqui estamos, perdidos num milhão de anos, e eles não existem ainda. As coisas que nos preocuparam por meses, por uma vida inteira, nem nasceram nem foram idealizadas, ainda.

—  Soltar as travas, todos! — ordenou Travis. Você dá o primeiro tiro, Eckels, Billings o segundo, e Kramer o terceiro.

— Já cacei tigre, javali, búfalo, elefante, mas agora, isto é incomparável — disse Eckels. — Estou tremendo como uma criança.

— Ah — fez Travis. Todos pararam.

Travis ergueu a mão. — À frente — falou, em voz baixa. — Na neblina. Lá está ele. Ali está Sua Majestade Real, agora.

A selva era ampla, e cheia de gorjeios, farfalhares, murmúrios e suspiros.

Subitamente, tudo cessou, como se alguém tivesse fechado a porta.

Silêncio.

Um som de trovão.

Da neblina, a cem jardas, vinha o Tyranossaurus rex.

— É ele — cochichou Eckels, — é ele… —Psss!

Ele veio sobre grandes pernas, oleosas, resilientes. Erguia-se a trinta pés, acima da metade das árvores, um grande deus do mal, dobrando suas delicadas garras de relojoeiro perto de seu peito oleoso, reptílico. Cada pata inferior era um pistão, mil libras de osso branco, mergulhadas em grossas cordas de músculos, revestidas por um brilho de uma pele pedregosa, como a malha de um terrível guerreiro. Cada coxa, uma tonelada de carne, marfim, e aço trançado. E da grande gaiola arquejante da parte superior do corpo, aqueles dois braços delicados pendurados para a frente, braços que poderiam erguer e examinar os homens como brinquedos, enquanto se dobrava o pescoço de serpente. E a cabeça mesmo, uma tonelada de pedra esculpida, erguida com facilidade contra o céu. Sua boca escancarava-se, expondo uma cerca de dentes como dardos. Seus olhos rolavam, ovos de avestruz, vazios de qualquer expressão, exceto fome. Fechava a boca num sorriso da morte. Corria, seus ossos pélvicos derrubando para os lados árvores e arbustos, seus pés, com garras, afundando-se na terra úmida, deixando marcas de seis polegadas de profundidade aonde quer que apoiasse seu peso. Corria com um passo deslizante de ballet, muito aprumado e equilibrado para suas dez toneladas. Movia-se, cansado, numa arena ensolarada, suas mãos lindamente reptilianas tateando o ar.

—   Ora, vejam — Eckels torceu a boca. — Poderia esticar-se e pegar a lua.

— Pssst! — fez Travis, nervoso. — Ele ainda não nos viu.

— Não pode ser morto. — Eckels pronunciou seu veredito, quieto, como se não pudesse haver discussão. Tinha avaliado a evidência, e era esta sua abalizada opinião. O rifle em sua mão parecia uma arma de brinquedo. — Fomos loucos de ter vindo. Isto é impossível.

— Cale-se! — silvou Travis.

— Pesadelo.

— Dê meia volta — comandou Travis. — Vá em silêncio para a Máquina. Podemos reembolsar-lhe metade de sua passagem.

— Não percebia como seria grande, — falou Eckels. — Avaliei mal, foi isso. E agora, quero desistir.

— Ele nos viu!

Lá está a tinta vermelha em seu peito!

O Lagarto Tirano levantou-se. Sua carne de armadura rebrilhava como mil moedas verdes. As moedas, com uma crosta de lama, ferviam. No lodo, pequenos insetos esperneavam, de modo que todo o corpo parecia retorcer-se e ondular, mesmo enquanto o monstro não se movia. Expirou. O cheiro de carne crua foi soprado pelos ermos.

—  Deixe-me sair daqui — disse Eckels. — Nunca foi como isto, agora. Eu sempre estava certo de que poderia sair vivo. Eu tinha bons guias, bons safáris, e segurança. Desta vez, enganei-me. Encontrei algo que me supera, e reconheço. É demais para eu enfrentar.

— Não corra — falou Lesperance. — Dê a volta. Esconda-se na Máquina.

— Sim, — Eckels parecia entorpecido. Olhou para seus pés, como que tentando fazê-los mover-se. Deu um grunhido, incapaz.

— Eckels!

Deu alguns passos, piscando, hesitante,

— Não por aí!

O Monstro, ao primeiro movimento, impulsionou-se para a frente com um grito terrível. Cobriu cem jardas em seis segundos. Os rifles ergueram-se rapidamente e iluminaram-se, com o fogo. Um vendaval da boca da besta engolfou-os na fedentina do lodo, e sangue envelhecido. O Monstro rugiu, dentes brilhando ao sol.

Eckels, sem olhar para trás, caminhou cegamente para a borda do Caminho, sua arma carregada frouxamente em seus braços, saiu do caminho, e andou, inadvertidamente, pela floresta. Seus pés afundaram em musgo verde. Suas pernas o carregavam, e ele se sentia só e afastado dos eventos lá atrás.

Os rifles dispararam de novo. O som perdeu-se no grito e no trovão do lagarto. O grande volume da cauda do animal lançou-se para cima, e para o lado. Árvores explodiram em nuvens de folhas e ramos. O Monstro torceu suas mãos de joalheiro para acariciar os homens, para dobrá-los ao meio, para esmagá-los, como frutinhas, para empurrá-los para seus dentes e sua garganta ruidosa. Seus olhos, quais rochedos, estavam ao nível dos homens. Viram-se espelhados. Dispararam nas pálpebras metálicas e na luminosa íris.

Como um ídolo de pedra, como uma avalanche de montanha, oTyranossaurus caiu. Trovejando, agarrou árvores, e puxou-as consigo. Agarrou e cortou o Caminho. Os homens precipitaram-se para trás, e para longe. O corpo abateu-se, dez toneladas de carne fria e pedra. Os rifles dispararam. O Monstro brandiu sua cauda blindada, crispou suas mandíbulas de serpente, e imobilizou-se. Uma fonte de sangue jorrava de sua garganta. Em algum lugar lá dentro, um saco de fluido estourou. Borbotões nauseantes inundaram os caçadores. Lá estavam vermelhos, brilhantes.

O trovão dissipou-se.

A selva estava silenciosa. Depois da avalanche, uma paz verde. Depois do pesadelo, o amanhecer.

Billings e Kramer praguejavam pesadamente, com seus rifles ainda fumegando.

Na Máquina do Tempo, face abatida, Eckels tremia. Tinha conseguido voltar ao caminho, e subira na Máquina.

Travis chegou, olhou para Eckels, pegou gaze de algodão e, virou-se para os outros, que estavam sentados sobre o Caminho.

— Limpem-se.

Limparam o sangue de seus capacetes. Começaram a resmungar, também. O Monstro jazia ali como uma montanha de carne. Dentro dele, podia-se ouvir os sopros e murmúrios, enquanto seus recessos iam morrendo, os órgãos parando de funcionar, líquidos circulan do um último instante, de saco para a bolsa, para vesícula, tudo desligando-se, parando para sempre. Era como ficar perto de uma locomotiva acidentada, ou uma escavadeira a vapor, no momento de desligar, com todas as válvulas sendo desativadas. Ossos estalavam; a tonelagem de sua própria carne, desequilibrada, peso morto, quebrava os delicados braços, do lado de baixo. A carne se assentava aos tremores.

Outro estalido. Mais acima, um enorme galho de árvore partiu de sua pesada ancoragem, caiu. Golpeou certeiramente a fera morta.

— Pronto. — Lesperance verificou seu relógio. — Bem na hora. Essa era a grande árvore que deveria cair e matar este animal,  originalmente. — Olhou para os dois caçadores. — Querem tirar a foto de troféu?

— Quê?

— Não podemos levar o troféu para o Futuro. O corpo deve ficar aqui, aonde deveria originalmente morrer, de modo que os insetos, pássaros, e bactérias possam devorá-lo, como devem. Tudo equilibrado. O corpo fica. Mas podemos tirar uma fotografia de vocês a seu lado.

Os dois homens fizeram força para pensar, mas desistiram, abanando as cabeças.

Deixaram-se guiar ao longo do Caminho de metal. Afundaram cansados, nos assentos da Máquina. Olharam de novo para o Monstro arruinado, o montículo em estagnação, aonde já estranhos pássaros reptilianos e insetos dourados estavam ocupados com a fumegante armadura.

Um som no chão da Máquina do Tempo deixou-os tensos. Eckels estava lá, tremendo.

— Lamento muitíssimo — disse.

— Levante-se! — gritou Travis. Eckels levantou-se.

— Vá para o Caminho sozinho — falou Travis, com seu rifle apontado. Não vai voltar para a Máquina. Vamos deixá-lo aqui!

Lesperance agarrou o braço de Travis. — Espere…

— Fique fora disto! — Travis desvencilhou-se de sua mão. — Este louco quase matou-nos. Mas isso não é tanto assim. Vejam seussapatos! Vejam! Ele saiu do Caminho. Isso nos arruína! Seremos multados! Milhares de dólares de seguro! Garantimos que ninguém deixa o Caminho, e ele o deixou. Ora, o louco! Terei de informar o Governo

Poderão cancelar nossa licença para viajar. Quem sabe o que ele fez ao Tempo, à História!

— Calma, tudo o que ele fez foi pisar em alguma sujeira.

— Como saber? — gritou Travis. — Não sabemos nada! É um mistério! Saia, Eckels!

Eckels mexeu em sua camisa. — Pago qualquer coisa. Mil dólares!

Travis olhou para o talão de cheques de Eckels e cuspiu. — Saia. O Monstro está perto do Caminho. Afunde os braços até os cotovelos na boca dele. Então poderá voltar conosco.

— Isto é irrazoável!

— O Monstro está morto, seu idiota. As balas! As balas não podem ser deixadas para trás. Elas não pertencem ao Passado; poderão mudar alguma coisa. Aqui está a minha faca. Cave-as!

A selva estava viva de novo, cheia de antigos tremores e do barulho dos pássaros. Eckels voltou-se lentamente para olhar o monte de carniça primordial, aquela montanha de pesadelos e terror. Depois de um longo tempo, como um sonâmbulo, arrastou-se ao longo do Caminho.

Voltou, tremendo, cinco minutos depois, com seus braços ensopados e vermelhos até os cotovelos. Estendeu as mãos. Cada uma segurava algumas balas de aço. Então caiu e ficou lá, imóvel.

— Você não precisava obrigá-lo a isso — comentou Lesperance.

— Não? É cedo ainda para dizer. — Travis tocou o corpo, com o pé. — Viverá. Da próxima vez não vai sair para caçar este tipo de caça. OK. — Ergueu o polegar para Lesperance. — Dê a partida. Vamos para casa.

1492 . 1776 . 1812 .

Limparam suas mãos e faces. Trocaram de roupa. Eckels estava de pé de novo, mudo. Travis olhou para ele por dez minutos.

— Não olhe para mim, — exclamou Eckels. — Não fiz nada.

— Quem pode saber?

— Apenas saí do Caminho, foi tudo, um pouco de lama em meus sapatos; que quer que eu faça? Que me ajoelhe e reze?

— Talvez precisemos disso. Estou lhe avisando, Eckels! Posso matá-lo, ainda. Minha arma está engatilhada.

— Estou inocente. Não fiz nada! 1999 . 2000 . 2055 .

A Máquina parou.

— Saia — ordenou Travis.

A sala lá estava, tal como quando saíram. Mas não exatamente a mesma. O mesmo homem atrás da mesma escrivaninha. Mas o mesmo homem não parecia estar sentado exatamente atrás da mesma escrivaninha.

Travis olhou em volta, depressa. — Tudo em ordem por aqui? — foi logo perguntando.

— Claro. Bem vindos ao lar!

Travis não relaxou. Parecia estar olhando para os próprios átomos do ar, e para o modo pelo qual o sol entrava pela janela alta.

— OK, Eckels, saia. E nunca mais volte. Eckels não podia mover-se.

— Ouviu-me, — falou Travis. — Para o quê está olhando? Eckels ficou, cheirando o ar, e havia algo no ar, uma substância tão tênue, tão sutil, que apenas um fraco aviso de seus sentidos subliminares avisavam-lhe que estava ali. As cores, branco, cinza, azul, laranja, na parede, na mobília, no céu, pela janela, eram… eram… E havia umasensação. Sua carne crispava-se. Ficou bebendo aquela estranheza com os poros de seu corpo. Em algum lugar, alguém devia estar soprando naqueles apitos que só os cães podem ouvir. Seu corpo gritava silenciosamente, em resposta. Além deste aposento, além desta parede, além deste homem, que não era exatamente o mesmo homem que estava sentado àquela mesa, que não era bem a mesma mesa… estava todo um mundo de ruas e gente. Que espécie de mundo era agora, não havia como dizer. Ele podia senti-los mover-se ali, além das paredes, quase, como peças de xadrez por um vento quente…

Mas a coisa mais imediata era o anúncio pintado na parede do escritório, o mesmo que havia lido hoje ao entrar. De alguma forma, o anúncio havia mudado:


SEFARIS NU TENPO, INC.

SEFARIS PRA QUALQUER ANO PAÇADO.

CÊ DIS QUI ANIMAU.

NÔIS LEVAMOS CÊ LÃ.

CÊOABAT.


Eckels sentiu-se caindo numa cadeira. Ficou mexendo, como louco, na lama em suas botas. Ergueu um pedaço de algo enlameado, tremendo. — Não, não pode ser, não uma coisinha assim, não!

Embebida na lama, brilhando em verde e dourado e preto, havia uma borboleta, muito bela, e muito morta.

Não uma coisa assim! Não uma borboleta! — gritou Eckels.

Caiu ao chão, uma coisa exótica, pequena, que poderia desmanchar equilíbrios e derrubar uma fila de dominós pequenos, e então grandes dominós, e então dominós gigantes, por todos os anos através do Tempo. A mente de Eckels turbilhonava. Não podia mudar as coisas. Matar uma borboleta não podia ser tão importante! Ou poderia?

Seu rosto estava frio. Sua boca hesitava, ao perguntar: — Quem… quem ganhou a eleição presidencial ontem?

O homem atrás da escrivaninha riu-se. — Está brincando? Sabe muito bem. Deutscher, claro! Quem mais? Não aquele maluco pusilânime do Keith. Temos um homem de ferro, agora, um homem de peito! — O funcionário parou. — O que há de errado?

Eckels gemeu. Caiu de joelhos. Examinava a borboleta dourada com dedos trêmulos. — Não podemos — implorava ao mundo, a si mesmo, aos funcionários, à Máquina. — Não podemos levá-la de volta, não podemos fazê-la viver de novo? Não podemos recomeçar? Não poderíamos…

Não se moveu. Olhos fechados, esperou, abalado. Ouviu Travis ofegando, na sala; ouviu Travis apontar o rifle, destravá-lo.

Houve um som de trovão.

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Ray Bradbury

quinta-feira, 10 de outubro de 2024

A TORTURA DA ESPERANÇA em Quadrinhos — Villiers de l’Isle-Adam


VILLIERS DE L’ISLE-ADAM

Philippe-Auguste-Mathias, conde de Villiers de l’Isle-Adam (1840-1889), pertencia a uma das famílias mais antigas da aristocracia francesa; contava entre seus antepassados um marechal da França e o primeiro dos grão-mestres da Ordem de Malta. Da antiga ilustração apenas lhe restava o esplendor do nome: passou a vida em profunda miséria, suportada, aliás, com orgulho e dignidade. “A pobreza colou-se-lhe aos ossos como a própria pele, e seus melhores amigos, seus admiradores mais fervorosos nunca puderam arrancar-lhe esse vestuário natural.”

Era Villiers de l’Isle-Adam um exilado dentro do seu século; vivia em estado de perpétua revolta contra a realidade. Conquanto houvesse abandonado a poesia depois de um único volume, sua obra influenciou fortemente os poetas simbolistas, que viam nela um protesto contra o realismo. A atmosfera de mistério, de sonho e de alucinação que emana de seus contos, romances e dramas dominava-lhe também a personalidade. Esta exerceu nos seus amigos estranha fascinação, como o demonstram os versos que lhe consagrou Verlaine em uma de suas “Dedicatórias”, e as reminiscências de Mallarmé, de uma solenidade e de um requinte hieráticos:

Sem embargo de sua importância na história literária, Villiers de l’Isle-Adam não conseguiu nenhuma popularidade em vida, e, morto, continua a ter um grupo de fiéis relativamente reduzido. Seus contos enchem vários volumes: Contos cruéis, Histórias insólitas, Novos contos cruéis, Histórias soberanas. Todos apresentam um todo inconfundível, apesar da variedade dos gêneros: sátiras ao progresso, histórias sobrenaturais, fantasmagorias e pesadelos, casos grotescos e absurdos, retratos de maníacos; em todos, por trás do estilo artisticamente equilibrado, sente-se uma tensão extrema, um exagero doentio, uma espécie de desequilíbrio íntimo.

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A TORTURA DA ESPERANÇA









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A TORTURA DA ESPERANÇA


— Oh! uma voz, uma voz, para gritar!...

Edgar Poe, “O poço e o pêndulo”


 


Sob os porões do Provisor de Saragoça, ao cair de uma tarde de outrora, o venerável Pedro Arbuez d’Espila, sexto prior dos dominicanos de Segóvia, terceiro Grande-Inquisidor de Espanha — seguido de um fra198 redentor (verdugo-mor) e precedido de dois familiares do Santo Ofício, estes empunhando lanternas, desceu a um calabouço perdido. Rangeu a fechadura de uma porta maciça: penetraram um mefítico in-pace, onde a claraboia da parte superior deixava vislumbrar, entre argolas chumbadas às paredes, um cavalete enegrecido de sangue, um esquentador, um cântaro. Sobre uma camada de esterco, e sustentado por peias, a golilha de ferro no pescoço, via-se sentado, com ar de espanto, um homem maltrapilho, de idade já indistinta.

Esse prisioneiro não era outro senão o rabi Aser Abarbanel, judeu aragonês, que — acusado de usura e de impiedoso desdém aos pobres — vinha sendo, desde mais de um ano, cotidianamente submetido a torturas. Entretanto, como “a sua cegueira fosse tão dura quanto o seu couro”, recusara-se à abjuração.

Orgulhoso de uma filiação muitas vezes milenária, ufanando-se de seus remotos antepassados — pois todos os judeus dignos de tal nome são ciosos do próprio sangue —, ele descendia talmudicamente de Otoniel, e, por conseguinte, de Ipsiboë, esposa deste último juiz de Israel: circunstância que contribuíra para mantê-lo sem desfalecimentos no auge dos incessantes suplícios.

Assim, foi com os olhos cheios de lágrimas, pensando que essa alma tão firme se furtava à salvação, que o venerável Pedro Arbuez d’Espila, aproximando-se do rabino tremente, pronunciou as seguintes palavras:

— Regozijai-vos, filho meu: vossas provações terrestres vão ter fim. Se, em face de tamanha obstinação, eu tive de permitir, com o coração em pranto, que se empregassem muitos rigores, minha tarefa de correção fraterna tem os seus limites. Sois a figueira intratável que, tantas vezes encontrada sem fruto, se arrisca a ficar estéril... porém só a Deus cumpre deliberar acerca de vossa alma. Quem sabe se a infinita clemência não luzirá para vós no instante supremo? Devemos esperá-lo! Há exemplos... Assim seja! — Portanto, descansai em paz esta noite. Amanhã, tomareis parte no auto de fé: vale dizer que sereis exposto ao quemadero, braseiro premonitório da eterna chama: ele só queima, bem o sabeis, meu filho, a distância, e a Morte leva pelo menos duas horas (às vezes três) para chegar, em virtude dos panos molhados e gelados com que nós temos o cuidado de preservar a fonte e o coração dos holocaustos. Sereis 43 apenas. Considerai que, colocado no último lugar, tereis o tempo necessário para invocar a Deus, para oferecer-lhe esse batismo de fogo que é do Espírito Santo. Esperai, pois, na Luz, e adormecei.

Ao terminar esta prática, d. Arbuez, tendo, com um sinal, feito desacorrentar o infeliz, abraçou-o ternamente. Depois foi a vez do fra redentor, que, baixinho, rogou ao judeu lhe perdoasse o que ele o fizera padecer no intento de o redimir; depois, abraçaram-no os dois familiares, cujo beijo, através das suas cogulas, foi silencioso. Concluída a cerimônia, deixaram o cativo, sozinho e atônito, nas trevas.

Com a boca seca, a face idiotizada pelo sofrimento, o rabi Aser Abarbanel considerou, desde logo, sem atenção precisa, a porta fechada. — “Fechada?...” No íntimo de sua alma, em meio aos seus confusos pensamentos, esta palavra despertava um devaneio: é que ele entrevira, um instante, o clarão das lanternas na fenda de entre as muralhas daquela porta. Uma ideia mórbida de esperança, suscitada pela prostração do cérebro, comoveu-lhe o ser. Arrastou-se em direção à insólita coisa aparecida! E, muito suavemente, deslizando um dedo, com demoradas precauções, na pequena abertura, puxou sobre si a porta... Que estupefação! por um acaso extraordinário, o familiar que o refechara dera a volta à grossa chave um pouco antes do baque de encontro às couceiras de pedra! De maneira que, não havendo a enferrujada lingueta entrado na porca do parafuso, a porta rodou novamente no vão.

O rabino arriscou um olhar à parte de fora.

Graças a uma espécie de escuridão lívida, distinguiu, no primeiro instante, um semicírculo de paredes terrosas, varadas por espirais de degraus — e, dominando, diante dele, cinco ou seis degraus de pedra, uma espécie de pórtico negro que dava acesso para um vasto corredor, do qual só era possível entrever, de baixo, os primeiros arcos.

Estirando-se, pois, rastejou até o rés desse limiar. — Sim, era sem dúvida um corredor, mas extremamente longo! Uma luz lívida, um clarão de sonho o iluminava: lâmpadas, suspensas das abóbadas, azulavam, a espaços, a cor embaciada do ar: o fundo longínquo era apenas sombra. Nem uma porta, lateralmente, em toda a extensão! Somente de um lado, à sua esquerda, respiradouros, de grades cruzadas, em desvãos da parede, deixavam passar um crepúsculo — que devia ser o da tarde, em virtude das estrias vermelhas que, de longe em longe, cortavam o lajeado. E que silêncio medonho!... Entretanto, além, nas profundezas daquelas brumas, uma saída podia dar para a liberdade! A vacilante esperança do judeu era tenaz, pois que era a última.

Assim, sem hesitar, arriscou-se sobre as lajes, cosendo-se à parede dos respiradouros, forcejando por se confundir com a tenebrosa cor das longas muralhas. Avançava lento, arrastando-se de bruços — e sopitando o ímpeto de gritar quando uma chaga, recém-avivada, o pungia.

Súbito, o rumor de uma sandália que se aproximava chegou-lhe aos ouvidos no eco dessa aleia de pedra. Um estremecimento sacudiu-o todo, a ansiedade o sufocava; escureceu-se-lhe a vista. Vamos! estava tudo acabado, certamente! Encolheu-se, de cócoras, num desvão, e, com a morte na alma, esperou.

Era um familiar apressado. Passou rápido, empunhando um arranca-músculos, com a cogula abaixada, e desapareceu. A comoção de que o rabino acabara de experimentar o aperto havia-lhe como que suspendido as funções vitais, deixando-o, cerca de uma hora, impossibilitado de fazer um movimento. No receio de que se lhe agravassem as torturas, caso fosse apanhado, veio-lhe a ideia de retornar ao seu calabouço. Mas, no íntimo da alma, a velha esperança lhe cochichava esse divino talvez, que reconforta nas piores tribulações! Produzira-se um milagre! Já não havia dúvidas! E ele pôs-se de novo a rastejar para a evasão possível. Extenuado de sofrimento e de fome, trêmulo de angústias, avançava! — E aquele sepulcral corredor parecia alongar-se misteriosamente! E o rabino, sempre avançando, olhava sem cessar para a sombra, lá longe, onde devia haver uma saída salvadora.

Oh! oh! Outra vez o ruído de passos, agora, porém, mais lentos e mais sombrios. As formas brancas e negras, de longos chapéus de abas reviradas, de dois inquisidores, apareceram-lhe, emergentes do ar embaciado, lá no fundo. Conversavam em voz baixa e pareciam debater um ponto importante, pois as suas mãos se agitavam.

A essa visão, o rabino Aser Abarbanel fechou os olhos: bateu-lhe o coração a ponto de o matar; seus trapos foram penetrados de um frio suor de agonia; pasmado, imóvel, estendido ao longo da parede, sob a luz de uma lamparina, imóvel, implorava o Deus de Davi.

Ao chegarem diante dele, detiveram-se os dois inquisidores sob a claridade da lâmpada — por um acaso oriundo, sem dúvida, da sua discussão. Um deles, escutando o interlocutor, olhou casualmente o rabino! E, debaixo desse olhar, cuja expressão distraída no primeiro instante não compreendeu, julgava o desgraçado sentir as cálidas tenazes morderem-lhe ainda a pobre carne; ia, pois, voltar a ser uma queixa e uma chaga! Desfalecendo, sem poder respirar, as pálpebras a bater, tremia, ao aflorar daquelas vestes. No entanto — coisa ao mesmo tempo estranha e natural —, os olhos do inquisidor eram, a toda a evidência, os de um homem fundamente preocupado com o que vai responder, absorvido pela ideia do que ouve, estavam fixos — e dir-se-ia olharem o judeu sem o ver!

Com efeito, ao cabo de alguns minutos os dois sinistros discutidores prosseguiram seu caminho, a passos lentos, e sempre conversando em voz baixa, em direção à encruzilhada donde saíra o prisioneiro; NÃO O TINHAM VISTO!... De tal modo que, no horrível desconcerto das suas sensações, o rabino teve o cérebro atravessado por esta ideia: “Estaria eu morto, de sorte que não me viram?” Uma horrenda impressão arrancou-o da letargia: fitando a parede, bem próxima de seu rosto, cuidou ver, ante os seus, dois olhos ferozes que o espreitavam!... Sacudiu a cabeça para trás num transe desvairado e súbito, com os cabelos arrepiados!... Mas — não! não. Sua mão acabava de conhecer a realidade, tateando as pedras: era o reflexo dos olhos do inquisidor que ele ainda tinha nas pupilas, e que refrangera sobre duas manchas da parede.

Para a frente! Cumpria apressar-se em direitura a esse fim que ele imaginava (doentiamente, decerto) ser a libertação! em direitura àquelas sombras de que ele se achava apenas à distância de uns trinta passos. E continuou, mais depressa, sobre os joelhos, sobre as mãos, sobre o ventre, a sua via dolorosa; e dentro em pouco entrava na parte escura daquele corredor medonho.

De repente o miserável sentiu frio sobre as mãos, que apoiava nas lajes; isto provinha de uma forte corrente de ar que se insinuava por sob uma pequena porta em que terminavam as duas paredes. Meu Deus! se aquela porta desse para o mundo exterior! Apoderou-se de todo o ser do lastimável evadido uma vertigem de esperança! Examinava-a, de alto a baixo, sem lograr distingui-la nitidamente em virtude da escuridão que o cingia. Tateava: nenhum ferrolho, nenhuma fechadura. — Uma aldraba!... Levantou-se: a lingueta cedeu sob o seu polegar; a silenciosa porta rodou ante ele.

— ALELUIA!... — murmurou, num suspiro imenso, de ação de graças, o rabino, agora em pé na soleira, ante o que se lhe desvendava aos olhos.

A porta se abrira sobre os jardins, sob uma noite estrelada! sobre a primavera, a liberdade, a vida! Tudo isso dava para o campo próximo, prolongando-se no rumo das sierras, cujas sinuosas linhas azuis se perfilavam de encontro ao horizonte — ei-la, ali, a salvação! — Oh! fugir! Via-se a correr toda a noite sob aqueles bosques de limoeiros cujo perfume lhe chegava às narinas. Uma vez nas montanhas, estaria salvo! Respirava o bom ar sagrado; o vento reanimava-o, seus pulmões ressuscitavam! Ouvia, no seu coração dilatado, o "Veni foras" de Lázaro! E, para bendizer mais uma vez o Deus que lhe concedia tal misericórdia, estendeu os braços diante de si, erguendo os olhos ao firmamento. Foi um êxtase.

Nisto, julgou ver a sombra de seus braços voltar-se sobre ele mesmo; julgou sentir que esses braços de sombra o cingiam, o enlaçavam — e que ele era ternamente apertado a um peito. Realmente, um vulto alto se achava ao pé do seu. Confiante, baixou os olhos para esse vulto — e ficou ofegante, enlouquecido, os olhos apagados, trêmulos, as bochechas a inchar, e babando de estupefação.

Horror! estava nos braços do Grande-Inquisidor em pessoa, do venerável Pedro Arbuez d’Espila, que o contemplava, com os olhos cheios de grossas lágrimas e um ar de bom pastor ao encontrar sua ovelha tresmalhada!...

O sombrio sacerdote estreitava ao coração o desgraçado judeu com um impulso de caridade tão fervente que as pontas do cilício monacal picavam, sob a cogula, o peito do dominicano. E, enquanto o rabi Aser Abarbanel, com os olhos revolvidos sob as pálpebras, estertorava de angústia entre os braços do ascético d. Arbuez e compreendia confusamente que todas as fases da noite fatal não passavam de um suplício previsto, o da Esperança!, o Grande-Inquisidor, com um acento de pungente censura e o olhar consternado, murmurava-lhe ao ouvido, com hálito ardente e alterado pelos jejuns:

— Como, meu filho! Na véspera, talvez, da salvação... queríeis deixar-nos!

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Introdução e conto extraído de: Mar de histórias: antologia do conto mundial: o realismo: volume 5 / Aurélio Buarque de Holanda Ferreira e Paulo Rónai (tradução e organização). - 5.ed. - Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2013.

Desenhos não creditados. Fonte VIDAS ILUSTRES - Ano XII - N° 164 - 15 de junio de 1967. ("VILLIERS DE L'ISLE ADAM").—© Copyright, 1967 — México.

quarta-feira, 19 de abril de 2023

Buenos Días Tristeza - Frédéric Rébéna & Françoise Sagan

 








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Un bello sacrilegio
por Frédéric Beigheder

Confieso que temía este libro. Las adaptaciones cinematográficas de novelas rara vez están a la altura del original, por eso adaptar Buenos días tristeza al cómic me parecía un desafío imposible, prácticamente un sacrilegio. La película de Otto Preminger me decepcionó, pero como mínimo se convirtió en un clásico, gracias a David Niven y Jean Seberg, una bella mansión junto al mar y algunas bellas secuencias de fiestas: Juliette Gréco canturreando Bonjour tristesse en el Maxim's, un baile en el puerto de Saint-Tropez y una buena borrachera en el casino.

El problema de las adaptaciones siempre es el mismo: alguien elige el rostro de Cécile por ti, te impone sus elecciones, enfatiza un aspecto u otro, olvidando todo aquello que no sirve de nada y que siempre es lo más esencial. La belleza es frágil, ¿podemos despedazarla en algunos casos? Aquí acabo con mi perorata lastimera para confesar mi entusiasmo. La empresa es aquí todo un éxito porque el autor ha sabido emanciparse del libro, igual que Cécile se deshace de su futura madrastra. Esta versión es sexy, frívola, cínica, balnearia y afrutada. Cécile es morena, su padre es más blando e indolente que perverso e indiferente. Elsa es una bomba de relojería. Anne sigue siendo autoritaria, pero menos frígida de lo que recordaba. El conjunto compone un relato distinto al original, un cuento soleado y erótico con ecos de la época actual, sin intentar devolvernos a una nostalgia estéril. Volvemos a encontrarnos la trama de esta pequeña obra maestra de los años cincuenta, pero en una versión completamente actual. El escándalo sigue presente, dado que los malentendidos intergeneracionales siguen siendo los mismos, como los enredos sentimentales, por no mencionar los peligros de la seducción. Me pregunto incluso si algunas feministas no reclamarán que se modifique el final de esta obra para no vehicularuna imagen sumisa de la mujer enamorada. Buenos días, tristeza fue desde su publicación una variación sobre un tema eterno: es No hay burlas con el amor reescrito por una discípula de Colette, o la crueldad de Las amistades peligrosas trasladada a la Costa Azul. Aquí el dibujo resalta la timidez del joven vecino, la involuntaria maldad adolescente, la retorcida venganza de una ex, la angustia del hombre maduro que siente que su sex-appeal disminuye y termina prefiriendo el placer a la felicidad. Hace calor, casi podemos oír las cigarras en los pinos, apetece beber vino rosado y tirarse al sol, en vez de ponerse a hacer deberes. Buenos días, tristeza recupera toda su magia. La adaptación es energética: el trazo obsesivo de Frédéric Rébéna (que evoca a Guido Crepax) le añade un plus de energía a una obra antigua. 

A Françoise Sagan le habría encantado este libro porque es irrespetuoso con ella, la despierta y le regala una nueva juventud.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

La Ciudad Ausente - Ricardo Piglia & Luis Scafati & Pablo de Santis (2000)

 







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Prólogo
Caligrafía nocturna

La primera noticia que recibimos de La ciudad ausente fue la publicación del fragmento titulado La isla, que apareció, si mal no recuerdo, en el año 90 en El Péndulo, una revista dedicada a la ciencia ficción y la literatura fantástica. Aquel capítulo hablaba de una isla del delta del Paraná donde se leía el Finnegans Wake de James Joyce como un libro sagrado. El fragmento me encantó, y poco después los lectores tuvimos la novela completa en nuestras manos: un volumen de tapas grises de la editorial Sudamericana con una pintura de Mark Rothko en la portada [probablemente elegida por el autor: recuerdo haber visto una reproducción de Rothko en el estudio donde trabaja Piglia.

La ciudad ausente fue un giro inesperado en la obra de Piglia. Sus libros anteriores -La invasión, Nombre falso, Respiración artificial- habían mostrado otras obsesiones: la articulación entre literatura y política, la presencia del género policial, su fascinación por la figura del escritor Roberto Arlt. En la nueva novela, el nombre de Arlt había sido reemplazado por el de Macedonio Fernández [escritor argentino de libros complejos e inefables, a cuya leyenda Borges contribuyó con páginas admirables, incesantes anécdotas y un discurso fúnebre que hizo reír a los presentes en el cementerio de la Recoleta]. Además había en esta novela un acercamiento de Piglia a la literatura fantástica y a la ciencia ficción [sin naves espaciales ni alienígenas; una ciencia ficción a la argentina: sabios locos que se encierran en altillos para fabricar máquinas desmesuradas que detengan el tiempo y devuelvan lo perdido]. Los géneros [la literatura fantástica, la ciencia ficción, el policial, el periodismo] siempre han estado en el centro de nuestra tradición y nuestros mayores escritores han elegido estos caminos, en lugar del realismo; con La ciudad ausente Piglia aceptó lo que le faltaba completar de este legado y así buscó la perfección en la combinación inesperada, en las variaciones de la imaginación, en la invención de una Buenos Aires de pesadilla. He leído esta novela muchas veces, a través de los años; siempre me deslumbra, siempre me parece que la leo por primera vez.

Luis Scafati, uno de los grandes dibujantes argentinos, ha estado siempre menos interesado en salones y exposiciones que en la publicación de sus ilustraciones en libros y revistas. Su dibujo exquisito y siempre gobernado por la inteligencia deja lugar para lo inesperado: una línea que se interrumpe, una mancha que nos sorprende, palabras trazadas en una caligra fía obsesiva que parecen escritas de noche, en la oscuridad. Para Scafati el dibujo y la escritura comparten un ámbito común, y por eso la escritura siempre está presente, o como relato o como caligrafía. En una vieja entrevista recordó cómo le gustaba dibujar en los días de infancia con una Parker gris que le prestaba su padre: instrumento de escritura [la Parker era la pluma que sólo usaban los mayores, la que no se podía llevar a la escuela ] convertido en instrumento de dibujo.

Scafati también era ilustrador de aquella ejemplar revista que mencioné, El Péndulo. Desde mediados de los ochenta, tanto Piglia como Scafati hicieron acercamientos al terreno del otro: Piglia eligió publicar sus trabajos críticos en una revista de historietas, Fierro. Y Scafati, gran lector, y también colaborador de Fierro, empezó a acercarse cada vez con más entusiasmo a la literatura, a través de ilustraciones en revistas o versiones de clásicos, como La metamorfosis de Franz Kafka, a la que debemos agregar en años recientes, Martín Fierro de José Hernández, El gato negro de Edgar Allan Poe y Drácula. En cuanto a este libro, trabajamos con Ricardo Piglia y Luis Scafati en unos pocos meses del año 2000. No sé cómo hizo Scafati para llegar a tiempo con estos dibujos que, lejos de parecer apurados, son además de ilustraciones, serenas reflexiones sobre el arte de ilustrar.

Después vino el 2001, y los hechos que sacudieron a la Argentina le dieron a La ciudad ausente una nueva lectura, como si la pesadilla se hubiera salido del libro. Ahora, ocho años después de la primera edición, el libro llega nuevamente a los lectores, como perfecto mapa para conocer la obra de dos de nuestros mayores creadores, en el dibujo y en la literatura. Vivo en el barrio de Caballito, a unas siete cuadras de la casa de Scafati, que está cerca del Parque Chacabuco. Una noche, al salir de mi casa después de una tormenta, encontré sobre la vereda, entre las ramas caídas del cedro que tengo frente a mi puerta, una hoja de carpeta, como las que usan los estudiantes. En la hoja había un boceto a lápiz que representaba a un hombre con una máscara. De inmediato me di cuenta de que era un dibujo de Scafati. Varios días duró mi desconcierto: cómo había llegado esa página hasta mi puerta. Soy tan distraído que, ante la duda, me acuso: yo tenía aquella hoja entre mis papeles, sin saberlo, y de algún modo misterioso había ido a parar a la calle. Pero la respuesta no me convencía, porque estaba seguro de no haber visto nunca ese dibujo. Un día me decidí a llamar a la casa del dibujante. Él no estaba, andaba por Mendoza, su ciudad natal, pero me atendió su esposa, Marta Vicente [que además de pintora, es una extraordinaria ilustradora de libros para niños]. y me explicó que había sacado unos diarios viejos a la calle y que seguro que ese papel se había mezclado entre ellos. El dibujo, mezclado con los diarios, había ido a parar a manos de los cartoneros [quienes, a pie o en carros tirados por escuálidos caballos, recorren la ciudad juntando diarios viejos, cartones y botellas). Como estos desarman paquetes y clasifican su mercancía, y además habían tenido que ejecutar esas maniobras bajo la lluvia, el papel se había caído, y el viento o el azar lo habían llevado hasta mi casa. Era una suma de casualidades, pero era la única explicación posible. Yo limpié y sequé el dibujo y lo conservé, como una prueba del arte de Scafati pero también de la delicada mano del azar.

No olvido mi estupor al ver la hoja frente a mi puerta como si hubiera un sistema de correos clandestino ocupado de enviar mensajes secretos, en noches de tormenta, entre hojas y ramas caídas; como si La ciudad ausente, a la manera de la enciclopedia de Tlon en el cuento de Borges, hubiera empezado a contaminar la realidad.

Pablo De Santis

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© 1992, 2008, del texto: Ricardo Piglia
© 2000, 2008, de la daptación y el prólogo: Pablo De Santis
e/o Guillermo Schavelzon & Asociados, Agencia Literaria
i nf orase havelzo n .com
© 2000. 2008, de las ilustraciones: Luis Scafati
© 2008, de esta edición: Libros del Zorro ROJO
Barcelona - Madrid/ www.librosdelzorrorojo .com
La novela La ciudad ausente está publicada
por Editorial Anagrama
Este libro es una realización de
albur producciones editoriales s.l.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2023

Lovecraft - Un homenaje en 15 historietas






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El horror lovecraftiano apela a un cosmos ciego y enfermo donde los seres humanos somos poco más que hormigas. Los abismos dei alma humana que recorrieran los torturados personajes de Poe, ceden paso, en Lovecraft, a una lucha de potências inhumanas, deidades de pesadilla que se disputan el domínio de lo viviente y que tienen, entre nosotros, sus hermandades, sus cultos y sus devotos.
Desde la desaparición del maestro, sus ficciones han ido aumentando gradualmente su popularidad hasta convertirse, junto con el Senor de los Anillos, en una de las mitologias literárias más fascinantes de nuestro tiempo. Su influencia en la cultura popular sigue estando vigente demostrando una sorprendente capacidad para adaptarse a los gustos y sensibilidades de varias generaciones.
Los autores de la revista CTHULHU se vuelven a unir para rendirle tributo y emocionado homenaje al que podemos considerar padre del horror moderno y a su panteón de criaturas y deidades de pesadilla. Un recorrido en 15 historias que demuestran la variedad y riqueza de una imaginación privilegiada.
PH'NGLUI MGLW'NAFH CTHULHU RTYEH WGAH'NAGL FHTAGN
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7 Lovecraft en los cómics
Texto de MANUEL MOTA

11 Lección de anatomía
Guión y dibujos: ÁNGEL RODRÍGUEZ

12 La locura de Marte
Guión: ÁLEX OGALLA Dibujos: ERNEST SALA

19 De dónde vienen las ideas
Guión: EL TORRES Dibujos: CHEMA GARCÍA  

29 La lanza de Neptuno
Guión: JORGE CABRERIZO 'CABHUR' Dibujos: MEO

39 Las ratas en las paredes
Guión: VICENTE NAVARRO Dibujos: ADOLFO USERO

47 El legado de Enoch Bowen
Guión: ELCHINODEPELOCRESPO Dibujos: MORTIMER

54 La transición de Juan Romero
Guión y dibujos: JUAN AGUILERA

61 Llegó de día
Guión y dibujos: LUIS NCT

71 El trato
Guión y dibujos: SIRELION

76 La mano de la diosa
Guión: FÁTIMA FERNÁNDEZ Dibujos: PACO ZARCO

83 El advenimiento de Nikto
Guión: JUAN LUIS IGLESIAS Dibujos: ÁLEX ESPERT

94 Anfitrite
Guión: JORDI ALINS Dibujos: BERTA LAURÍN

104 La huída
Guión y dibujos: MANUEL MOTA

109 Goteo
Guión: DAVID BRAÑA Dibujos: SANTIAGO GIRÓN

117 Las ratas del cementerio
Guión y dibujos: RAÍL ROBEN

Ilustración de cubierta: SANTIPÉREZ

Muerte en el Nilo de Agatha Christie - François Rivière & Jean-François Miniac (1995)






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MUERTE EN EL NILO

No está bien robarle el novio a la mejor amiga para casarse con él. Pero, incluso si la amiga en cuestión parece resignarse, la estupenda y riquísima Linnet Ridgeway tiene pocos motivos para dormir tranquila… sobre todo cuando el azar las reúne, durante un crucero por el Nilo, con personajes inquietantes en un ambiente cargado de sensualidad y de codicia.
Un pequeno revólver, un extraño crimen, y un enigma más para un pasajero que se distingue de los demás: Hercule Poirot.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Martin Eden (d'après le roman de Jack London) - Aude Samana & Denis Lapiére (2016)

 






Martin Eden é o romance mais autobiográfico de Jack London e um dos principais livros da literatura do século XX. Martin Eden é um jovem marinheiro nascido nas favelas de Oakland. Uma noite, ele defende um jovem durante uma briga. Este último, filho de uma família rica, convida-o para jantar em sua casa para lhe agradecer. Nesta ocasião, Martin conhece sua irmã, Ruth Morse, uma jovem delicada, por quem se apaixona perdidamente. Ele decide se educar para conquistá-la. Aos poucos, primeiro para agradá-lo, depois com vontade de aprender cada vez mais, ele se torna um homem culto e se esforça para se tornar famoso tornando-se escritor. Apesar do talento que julga ter, não consegue viver da sua caneta. Todos os seus manuscritos são recusados ​​pela Edição. Após a publicação de um artigo em um jornal local em que é apresentado como socialista, o que não é, Ruth o abandona. Ele não tem mais vontade de escrever, mas de repente se torna um autor de sucesso. Martin Eden parte para se estabelecer em uma ilha no Pacífico. No barco, já sem gosto para nada, desgastado pela hipocrisia ambiente, deixa-se escorregar para o mar. Aude Samama, talentosa ilustradora, trabalha a sua pintura até à pureza, com inspiração no expressionismo alemão, em ressonância com a delicada história de Denis Lapière sobre a fragilidade e a complexidade dos seres.

(Resenha do Goodreads)

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